O pequeno estado costeiro de Goa afastou-se quase completamente do património cultural legado pelos 450 anos de colonização portuguesa, cuja língua e património arquitectónico estavam em vias de desaparecer após 60 anos no aprisco da Índia.
Casas dilapidadas e o crescente domínio cultural de Bollywood pressagiam o apagamento da história colonial de Goa e o esquecimento desta língua portuguesa que antes proporcionava acesso a um status social elevado e uma afinidade com o poder.
Lauren Alberto, professora de português na Universidade de Goa, observa que cada vez menos jovens no estado fazem seus cursos. A maioria de seus alunos agora vem de outras partes da Índia.
“Meus filhos não falam nada”, disse a professora indiana de 46 anos à AFP. “Eles simplesmente não veem o sentido de aprender.”
Quando a Índia se libertou do Império Britânico em 1947, muitos residentes de Goa exigiam simultaneamente o fim da presença portuguesa. E quando as forças indianas assumiram o estado em 1961 para integrá-lo ao resto do país, as testemunhas ficaram surpresas com a transformação imediata. Foi nojento.
“Foi muito estranho (…) tudo mudou tão rápido”, lembra Honorato Filho, diretor de escola aposentado. O jovem de 78 anos morava no bairro do avô de Antonio Costa, atual primeiro-ministro português, e lembra com carinho sua infância acalmada por influências europeias mescladas com idiossincrasias locais.
– ‘Nossas cápsulas de cultura’ –
“Minha esposa e eu ainda falamos português por hábito, mas nunca falamos com nossos filhos”, disse Filho à AFP. Em todo o estado, as casas coloniais portuguesas estão em mau estado, muitas delas destruídas para dar lugar a edifícios de apartamentos. O desaparecimento gradual dos típicos terraços cobertos e janelas de concha, para suavizar o eco do sol, não é apenas uma perda para o patrimônio arquitetônico, segundo a escritora Heta Pandit, a especialista em arquitetura goaiana que se esforça para preservar.
“Estas casas são testemunhos da história de Goa, são cápsulas da nossa cultura”, afirma. A Sra. Pandit acrescenta: Apenas um pequeno punhado de prédios selecionados será salvo da destruição e do desenvolvimento.
A filha de Goa, Sonia Chersat, de 40 anos, é hoje a voz maravilhosa do fado, uma tradicional canção triste portuguesa salpicada de guitarra, que surgiu no início do século XIX e é classificada pela UNESCO como Património Cultural Imaterial.
Durante um concerto ao ar livre numa aldeia costeira de Goa, perante algumas dezenas de espectadores, a cantora aproveita para explicar o significado de cada título do seu concerto, sabendo que grande parte do público não conhece ou não entender nada. Português.
Ela própria, na adolescência, recusou-se a aprender o português, mas agora está a imortalizar o fado em Goa e a convidar as novas gerações a seguirem os seus passos.
– Fado e Sitar –
“Minha mãe tentou me ensinar o idioma, mas isso não me interessou”, disse ela à AFP. Tudo mudou quando, ainda jovem, conheceu um guitarrista português que considerou a sua voz “rica e aveludada” perfeita para o Fado. Depois saí de Goa para Lisboa onde aprendi fado. Em 2008, foi a primeira fadista indiana a actuar a solo.
Desde então, Sonia Shirsat Vadoha tem sido cantada em todo o mundo, que ela às vezes gosta de misturar misturando instrumentos musicais tradicionais indianos como a cítara que o grande mestre indiano Ravi Shankar ajudou a divulgar no Ocidente.
Todas as canções do Fado estão naturalmente imersas na nostalgia, mas em Goa carregam um eco único de duas épocas. “O Fado não é apenas sobre o que perdemos, mas também sobre o que vai acontecer”, diz a cantora, “Faz parte da vida de Goa há mais de 100 anos. Se não o preservarmos, significa destruir uma parte de Goa. quem nós somos.”