lavagemO nome desta coreografia significa “lavar” e “limpar” em português. Seis dançarinos de favelas do Rio, integrantes do grupo REC, se apresentaram por ocasião do Festival de Outono Este show é da coreógrafa brasileira Alice Ripoll, que quer questionar essa ideia de limpeza.
Assistimos a este show na noite de 16 de outubro no Teatro de Louis Aragon em Tremblay-en-France (Seine-Saint-Denis). Sem nenhum arrependimento.
Um mundo rico e desenvolvido
É uma paisagem de turbulência, calma, calma e purificação em um mundo repleto de diferentes expressões. Assume um carácter quase ritual, sagrado no seio desta harmonia de corpos, numa decoração reduzida ao mínimo: uma lona azul. Uma aura de força e beleza emerge nesses brinquedos com a lona azul vibrante, que simboliza a água e a lavagem. Às vezes os dançarinos se unem a ela, se escondem sob sua estrutura, e às vezes fazem dela seu playground, seu entorno. Ele o acertou e o arremessou como um rio sacudido por uma tempestade, então ele recuperou a calma.
O uso de baldes ativa a limpeza diária, mas eles também funcionam como caixas de percussão para os ritmos que dançam. Com a alegria brasileira, é possível sentir o caráter da favela, sua cultura de dança, ritmo e idiossincrasias. A coreografia não é inocente, pois esses bairros reúnem moradores pobres, em sua maioria não brancos e, muitas vezes, trabalham em casa. A população também foi submetida a estereótipos: corpos racistas podem ser mais “sujos”, em uma sociedade brasileira desigual. Uma visão que Alice Ripoll pretende combater fazendo com que sua dança seja política e bela.
Vários significados da palavra limpo
A alegria da ablução se expressa através do canto, que é descrito como um elemento cultural, mas também é representado como um sujeito de melancolia e seriedade. Somos espectadores da agitação do grupo de dançarinos pendurando roupas juntos e encharcando a água, então, com o passar do tempo, marchamos aparentemente com a intenção de limpar o corpo em silêncio.
O tempo é suspenso, depois inconstante, como a vida enfim, feita da cadeia de eventos que caracteriza esses estágios de existência; Alegria intensa, luto, descanso, calma, êxtase.
Eles dançam com essa água que espalham em seus corpos no chão. Saudamos a dificuldade de atuar neste tipo de condição, sobre uma lona que se transformou em uma pista de gelo e se tornou uma só: deslizando, dançando, dançando, patinando, engatinhando. Água é dançarina em si mesma, o sétimo integrante do grupo que se expressa através da coreografia: desdobrando-se pura em lonas, desdobrando-se em gotas, gêiseres, espuma e explosões.
Vista impressionante e maravilhosa para assistir, unir-se lavagem Graças a esta solidariedade e esta harmonia entre os corpos que se entrelaçam e se limpam. Coreografia graciosa e bela, até sensual.
Seus corpos acabam traduzindo uma certa forma de pureza: os dançarinos estão seminus, indefesos, a cor de seus maiôs lembrando lonas – azul – e pureza – branco – e os selos usados para limpar – vermelho.
lavagem Dallas Ripoll © Renato Mangolin