O diplomata Antônio Coimbra Martins deixou o cargo de embaixador de Portugal em Paris em junho de 1979 e ofereceu sua própria variação do grito do poeta Maiakovski meio século antes: “Eu viveria e morreria em Paris se não existisse Lisboa no mundo.”
Co-fundador do Partido Socialista Português nos últimos dias da ditadura, amigo e ministro de Mário Soares (1924-2017), guardião de uma forte tradição humanista europeia, este pensador que desde então ensinou nas mais altas instituições do saber francês morreu em Paris em 19 de maio com a idade de 94 anos
Nascido em Lisboa a 30 de janeiro de 1927, filho de um banqueiro iniciou esta carreira académica. Licenciou-se em Filologia Romena pela Faculdade de Letras de Lisboa (1950), leccionou durante um período no Liceu (1952) e depois mudou-se de Lisboa para França, onde se tornou, totalmente bilingue, leitor de português nas Faculdades de Letras de Montpellier e Paris. Aix (1953-1956), antes de se mudar para Paris, onde ocupou o mesmo cargo na Universidade Católica e na Sorbonne (1957-1960).
Se regressar a Portugal, e ingressar na Faculdade de Letras de Lisboa, onde estudou linguística portuguesa e literatura francesa (1961-1964), a sua hostilidade para com novo estado, O regime autoritário que Salazar fundou em 1932 levou-o a aderir à Ação Democrática e Social em 1964, que logo se tornaria a Ação Socialista Portuguesa (ASP). Regressando a Paris, onde em Janeiro de 1965 instalou a biblioteca do Centro Cultural Português da Fundação Calouste-Gulbenkian, rue de Ena, que abriu quatro meses depois. Antonio Coimbra Martins, Presidente da Fundação, passou a ser Bibliotecário e Diretor Adjunto.
Participe da “Revolução dos Cravos”
Na luta pelo regresso à democracia no seu país, fundou com Ramos da Costa o núcleo parisiense da Associação Ásia-Pacífico e integrou a Comissão para a Defesa das Liberdades em Portugal, com sede em Paris.
Paralelamente, deu continuidade ao seu empenho académico, trabalhando a lexicografia e a história das ideias em Portugal no século XVIII.e e dezenovee Séculos ou o teatro pelo qual há muito passa, ele traduz para seus compatriotas Marcel Achard, Jean-Paul Sartre, antes mesmo de o Prêmio Nobel o distinguir – de náusea (1958) para arrebatado do atum (1961) – mais tarde Dom guan de Moliere que o traduziu em 1985 para o teatro (a versão só foi publicada em 2006).
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